sábado, 26 de março de 2011

Sertão

Olhai à paisagem e veja arbustos, arvoretas e cactos. Perceba que todos estão armados, de espinhos ou quando macerados vertem látex. Perceba ainda que no sertão época de verão a natureza se cora de cinza, tudo é meio branco, plantas parecem mortas. Solo seco, muitas vezes esturricados, rachados; o céu azul, limpo e o sol brilhando intensamente. Há tanta luz, faz tanto calor. Mas aqui tudo é diverso, peculiar e belo; pois aqui tudo tem um aroma e forma que impregna na alma a essência deste lugar, faz-se memória instantânea. A vida sofrera para se adaptar, muitas vidas vieram e aqui ficaram, e quando escasso de água, a latência das plantas e das sementes que se encrosta em suas casas, suas testas e adormecem, como dríades grega. Os animais ali se escondem entre as plantas, sob rochas, entre castas, insetos, réptil, e pequenos animais. O vento quase não sopra, nada se passa, tudo para, a natureza dorme durante o dia e acorda durante a noite. Os afloramentos graníticos, serrotes, abrigam macambiras, urtigas e cardeiros, rochas soltas pelo chão, desordenadas adormecidas no tempo, movidas apenas pela natureza, são evidência das proezas da natureza, barram os horizontes, aqui pode se sentir o pulsar do sangue nas veias, a respiração ofegante, o coração a bater, o suor a escorrer, do corpo e da alma, a carne quente, a mente refrigerada, a pele tingida pela luz do sol, a vista cinza, caatinga. É possível ver a vida bem presente, é possível ser consciente de si, dos próprios limites, da certeza e esperança que tudo melhora, aprende-se a ser paciente, é preciso ser ciente pra poder aqui morar, pra poder aqui amar. E quando no fim da tarde o céu também arde em brasa, tingido de vermelho, como uma brasa que se apaga a natureza do dia se entrega a noite, paulatinamente, aparecem os planetas, sucedendo as estrelas, então cai a noite, surge um vento de açoite, e tudo está escuro, a natureza esfria lentamente, na escuridão, apenas o brilho das estrelas se percebe, então por esta se mede, a abóboda celeste, pode-se perceber que a profundeza é para cima o infinito torna-se algo bonito, estrelas amarelas, vermelhas e azuis, de brilhos rutilantes, brilhos percorrentes, antigos, percebemos o tamanho do universo, então matutamos em Deus, em nós e percebemos quanto somos pequenos e respeitamos o mundo. E amamos a vida, sendo eternamente crentes no oculto. Vindes ver o sertão, vá além da imaginação, lugar mais diferente não há.

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